quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Educação e ideologia - publicado no jornal Mundo Seletivo

Quando eu estava no Ensino Médio, qualquer discussão política ou econômica era encerrada, quase sempre, pela seguinte frase: “ah, mas eu li na Veja”. A revista Veja era ‘a’ fonte de informação, assim como era a Barsa para as pesquisas escolares. Hoje, que estou do outro lado, no papel de professora, vejo os perigos que essa revista traz para o imaginário social, e isso me preocupa. Explico.
Recentemente a discussão na sala dos professores foi a matéria jornalística que afirmava que os docentes não se preocupam somente em lecionar o conteúdo, mas também inculcar algumas ideologias de ‘esquerda’ nas pobres crianças. Várias questões permeiam esse problema entre ensino e ideologia. A primeira, mais simples, identifica que ideologia é somente algo vinculado à ‘esquerda’ e que, necessariamente, o pensamento de direita não é ideológico. Um engano. Todos estamos imbuídos de ideologia, à direita ou à esquerda, e abandoná-las no contexto da sala de aula é tarefa humanamente impossível. Não estou defendendo uma aula político-partidária. Defendo uma aula onde todas as opiniões e ideologias sejam ouvidas e discutidas, para a formação de um aluno mais crítico e um cidadão mais consciente.
O que me remete à outra questão, um pouco mais provocativa. Como pode a revista Veja pregar uma aula isenta de ideologia quando, em suas matérias, incita seus leitores a uma cruzada contra o mundo árabe? Ou quando faz críticas explícitas ao professor brasileiro, sem levar muito em conta suas condições de produção (salas lotadas, baixos salários, alunos malcriados)? Ou quando se opõe, de forma muito contundente, ao sistema de cotas nas Universidades públicas?
A revista dá pouca margem para que o leitor tire suas conclusões e cabe a nós, professores, que ensinemos nossos alunos a ler a Veja, de forma a (des) acreditar em algumas falsas verdades que são tão fortemente reforçadas. E, me posicionando (ideologicamente): se for para ensinar as causas da Revolta da Vacina, e somente essas causas, os alunos não precisarão de mim. Basta que abram a apostila e leiam o conteúdo indicado.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Sem título

A cada dia que passa, tenho a percepção de que caminhamos para o isolamento, para uma sociedade centrada no eu. Dia após dia, produtos são disponibilizados para pessoas que vivem sozinhas: a indústria de congelados é um sintoma desta solidão inerente à sociedade moderna. Tem coisa mais solitária que não dividir a mesa com alguém?

Aliás, pouco se divide em nossos tempos: raramente alguém divide o seu tempo com outra pessoa. Todos têm pressa. Ou falta de tempo, mesmo que esse seja uma questão de preferência (como já disse Antoine de Saint-Exupéry). Vez ou outra encontramos um ouvinte, uma pessoa para quem possamos falar todas aquelas bobagens que são tão peculiares a nós. Geralmente as pessoas não estão 'toda ouvidos', basta que olhemos para elas: estão sempre com um fone de ouvido, para evitar qualquer tipo de contato. Apropriando-me de Adriana Calcanhoto, estão sempre com "uma segunda pele, uma casca, uma cápsula protetora".

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Os EUA e os conflitos árabes-israelenses

Um texto interessante sobre a posição norte-americana no Oriente Médio.
Clica!

sábado, 30 de agosto de 2008

O medo norte americano

Muitas vezes brinco em sala que os norte americanos representam a nação do medo: sempre estão temendo alguma coisa, como os comunistas, os terroristas e outros istas por aí. Esse desenho é bem legal e mostra, em apenas 3 minutos, como os EUA se constituíram como a nação anti-terror. Clica!

Guerra fria

Achei legal esse vídeo do Jornal Nacional sobre o fim da Guerra Fria. Para aqueles que vão fazer o blog sobre esse tema, vai a dica!
Para acessar, clique aqui.

Consumo

Para quem costuma se esconder atrás de tantos badulaques e quase nunca pensa nas consequências do seu consumo, uma dica!

domingo, 24 de agosto de 2008

Não é mais um besteirol americano

Ontem eu vi ao filme Juno. Li muito sobre ele, mas não criei grandes expectativas em relação à história. Mas ao final do filme, percebi que foi um dos filmes mais sensíveis e criativos que já vi.
A história narra a vida de uma garota de 16 anos que engravida na primeira transa. Com toda a personalidade que é peculiar à Juno, personagem do filme interpretada por Ellen Page, ela decide ir adiante com a gravidez e entregar o filho para adoção. Nada mais trágico que isso não?
Mas o filme nos leva a caminhar junto à Juno, e até mesmo sentir o que ela está passando, de uma forma leve, divertida e sensível. Os atores,somente com o olhar, conseguiram passar ao telespectador toda a dor e desespero que aquela gravidez, fora de época, poderia causar em qualquer adolescente. Um exemplo é a cena em que Juno conta à Paulie que está grávida: o sentimento de desamparo de ambos ficou estampado no rosto, sem que nenhum dos dois personagens falassem nada. Um filme feito de pequenos detalhes.
Um outro aplauso para esse filme é que, diferente do que poderia sugerir a sua capa, não é mais um daqueles filmes babacas, que mostram adolescentes sarados com Q.I de barata, onde a líder de torcida é a mais gostosa e onde adolescentes estão sempre transando. Não! O filme foi fiel, na medida do possível, ao universo adolescente, com todas as suas incertezas e, principalmente, senso de humor implacável.
E uma ótima trilha sonora!!!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Super gêmeos, ativar


A TV, como todos sabemos, passa uma visão muito deturpada da realidade. Óbvio é que, se for para ver a realidade, abro o portão de casa. Mas a TV faz com que acreditemos, ou sonhemos, com coisas que serão praticamente impossíveis de realizá-las. Um caso que me é emblemático é a amizade. Já notaram como a amizade é retratada?
Lembro de um desenho que passava na Xuxa (sim, eu gostava dela) que chamava-se 'A turma da pesada'. Nesse desenho havia uma turma de amigos super legais, super descolados, super ricos, super tudo. Eu queria amigos como aqueles. Não aconteceu. Meus amigos da escola não eram os mais 'populares'. Assim como eu também não era. Mais tarde, na adolescência, assisti aquela série Barrados no Baile. Daí eu pensava que teria um grupo de amigos como aquele. Três casais super amigos. E depois, a divertidíssima Friends. Sim, era divertida, mas também passava aquela imagem de 'amigos super legais - que vivem em pares - que vivem super juntos em NY - que quase nunca brigam - e que são, em sua maioria, super normais'.
Voltando à realidade, essa nos mostra ser outra coisa. Pois bem. Nossos amigos não são super legais, pelo menos não na maior parte do tempo. Nossos amigos são esquisitos: não sorriem o tempo todo, não falam o tempo todo, como gostaríamos que fossem (ou como acreditamos que devessem ser?). Nossos amigos são super amigos, e só. Meio parecido com aquele desenho (que não me lembro o nome), onde um irmão completava o outro, ao gritarem 'super gêmeos, ativar....'. E, a partir da forma que assumiam, se ajudavam e venciam o mal. Eu acho isso legal!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Chama o ladrão!


Nos últimos dias não tenho lido jornais. Eles estavam se amontoando em cima do carro, estacionado na garagem de casa. O motivo é um só: não sei quantas folhas recheadas de desgraça, corrupção e futebol. Não dá.
Mas para não ser tachada de alienada, e blá, blá, bla, resolvi dar uma "zapeada" na Folha de São Paulo e vi que realmente o Brasil é o país da piada pronta. E duas coisas me chamaram a atenção. A primeira é o caso do banqueiro Daniel Dantas (não é Natércio da novela das seis, por favor). A Polícia Federal prende o bandido e o STF manda soltar. Segundo o STF, houve abuso na prisão do banqueiro. Uma novidade: bandido de colarinho branco se prende jogando confete e purpurina, e não colocando algemas. Aí vai a pergunta: quem está ganhando o que e quanto? Do outro lado, vemos a PM do Rio de Janeiro matando como nunca se noticiou. Um sujeito de 35 anos foi sequestrado e estava dentro do carro com um bandido. A PM atirou. A PM atirou também no carro de uma família, matando um garotinho. Confundiram um Stilo com uma Palio Wekend (poxa, até eu sei diferenciar esses carros).
Bem, tudo isso é para dizer que, diante o perigo de estar sendo perseguido ou simplesmente acompanhado pelo STF ou pela PM do Rio, aconselho a todos o mesmo que Chico Buarque aconselhou na época da ditadura: chama o ladrão!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Elizabeth


Ontem vi esse filme. Elizabeth, a era do ouro. Não sei os motivos, mas cultivo uma enorme simpatia por essa mulher. Acredito que seja pela atriz, que interpreta muito bem a rainha virgem. Em outros momentos, acredito que seja pelo fato dela ser uma rainha forte, decidida. Em 40 anos de governo, consultou o parlamento inglês pouquissímas vezes. No primeiro filme, mostra uma mulher decidida, forte, que lutou contra tudo e todos para se manter no poder. Daí eu pensava: quando crescer, quero ser como a Elizabeth. Afinal, é o protótipo da mulher moderna. Tudo bem, viagens da minha parte, mas que a idéia de uma mulher, 'bastarda' (acho esse termo horroroso), ter governado a Inglaterra por tanto tempo me surpreende. Mas o que tudo isso tem a ver com o segundo filme. Pelo amor de Deus!!! Elizabeth enlouqueceu no segundo filme. Cheia de fraquezas, 'carente de amor', chorando pelos cantos, titubeando sobre a condenação da prima, que havia conspirado contra ela. Observo que disso tudo , não se leve nada em conta. Não há análise histórica aprofundada (e nem rasa) dos eventos narrados nos dois filmes.
But.... i´m sorry. Vou cultivar a imagem da virgem do primeiro filme!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Duda e Coca


Apresento à vcs a Duda e a Coca. São duas cachorrinhas muito valentes.
Domingo a tarde eu estava fazendo uma das minhas caminhadas malucas pelas estradas rurais com uma amiga. Eis que vemos essas duas menininhas aí. Ignoramos, a princípio. Afinal, estávamos proibidas de pegar novos filhinhos. Mas nao adiantou. Elas nos seguiram por mais ou menos 10 km, segundo a nossa estimativa. Tanta valentia valeu a elas um novo lar. O assunto nosso, durante a caminhada era: se as pessoas são capazes de jogar filhos do 6o andar, o que podemos esperar dos pobres animais abandonados nas ruas?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Olha esse ypê


Adoro Ypê. Não o sabão. A árvore mesmo. Amei esse ypê rebelde!

Uma frase bacana

Uma vez li uma frase que achei muito bacana. Era algo do tipo 'cada um que passa em nossas vidas nao vai só, leva um pouco da gente, deixa um pouco para nós'. Não está na íntegra, e nem mesmo sei ao certo a autoria (a internet, esse mar de informações, terra de ninguém, acusa duas autorias para essa frase - Antoine Saint Exupery e Charles Chaplin...rs). Bem, mas não é sobre a internet q quero escrever. Mas sobre a essência dessa idéia. A idéia de que deixamos nossas marcas na vida de alguém, e esses alguéns na nossa, me lembrou um fato que me marcou muito. Saio toda semana para fazer minha pesquisa de campo. Entro muda, saio calada. Tudo pela suposta 'neutralidade' da pesquisa. Mas um dia, eu entrei e sentei no fundo da sala, buscando não atrapalhar o andamento da aula. Uma menininha, não sei o nome, se levanta e me dá de presente um brinco. Nunca conversei diretamente com essa garotinha. Disse a ela que desse o presente à professora. Ela respondeu que já havia dado, que esse era o meu. Fiquei sabendo que essa garotinha perdeu a mãe, e que o pai está preso. Isso me comoveu bastante e me fez perguntar o que eu teria feito a essa menina. Um olhar de aprovação, um sorriso. Talvez tenha sido isso...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Cotas para negros

Depois de muitaaaaa discussão nas aulas de sociologia sobre as cotas para negros nas universidades públicas brasileiras, um novo manifesto é enviado ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Esta mensagem foi enviada pela Gio, do 2o EM. Vale a pena dar uma olhadinha.
http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/06/19/ult105u6640.jhtm

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O ensino de sociologia



Desde a década de 70, a sociologia tem sido abandonada pelas políticas curriculares nacionais. Naquele contexto, essa exclusão se deu pelo fato de professores de sociologia (e de história também) falarem demais. Digo: falarem sobre política. Num momento em que toda e qualquer forma de expressão era cerceada pela ditadura militar, ser professor de sociologia era uma aventura. Um dia poderia ser preso, no outro torturado, (se não falar nada pode ser que saia ileso) Afinal, falar em marxismo ou Cuba poderia levar o professor para os mais obscuros corredores da ditadura militar. Anos mais tarde, mais especificamente em 2008, a sociologia volta como disciplina obrigatória no ensino médio. Os pobres sociólogos, enfim, terão um ofício. O que me preocupa é a excessiva expectativa que fazem da disciplina no contexto escolar: noções de cidadania e de crítica social sao praticamente responsabilidades do professor de sociologia (basta que leiamos os PCNS). Quanta resposabilidade não?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sobre hábitos alimentares

"Tábata e Samanta estão clamando por um cachorro quente...sem salsicha". Tábata e Samanta são os parasitas que habitam meu estômago. Elas possuem hábitos alimentares bem parecidos ao meu. E meu cachorro quente preferido é sem salsicha. Isso causa espanto a você? A ausência da salsicha não me causa nenhum estranhamento e nem altera o sabor do meu hot dog. Claro q isso gera uma certa confusão na cabeça do carinha que monta meu lanche: "duas salsichas?", eu respondo "nenhuma, capricha no purê" (afinal, o preço é o mesmo). Mas a pergunta que não deve estar calando aí, n sua cabecinha é: mas pq vc não come a salsicha? Oras, comer algo q vc não sabe de onde vem é bastante complicado. Como a coxa do frango, pq sei q é a coxa (o frango inteiro na mesa não me faz bem, afinal, vejo ele ali, todo montadinho, me olhando, me chamando de 'chicken killer'). Agora, parte de que bicho, ou de que jornal, ou de que caixa de papelão eu estou comendo qdo me alimento de salsichas? E nuggets então?
Certas coisas não devem ser ingeridas. Nem misturadas. Se vc tem o hábito de pegar marmita, verá que não possuem nenhum critério para dispor os alimentos na bandeja. Arroz, macarrão, peixe frito, feijão. Esses alimentos não devem ser postos lado a lado nunca. Simplesmente não combinam, têm temperamentos diferentes. Não que necessariamente tenhamos que separar todos os alimentos (separar o macarrão dos legumes na sopa ou a salada do hamburguer, como uma vez me disseram), mas fazer do meu prato uma massa de cimento a ser colocada guela abaixo é mais aprazivel às pessoas que têm alma de pedreiro, como certa pessoinha a quem dedico este texto...rs.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Pensamentos pedagógicos....rs

Numa longa discussão sobre disciplinaridade, interdisciplinaridade e práticas escolares, onde me posicionava cética em relação à possibilidade da interdisciplinaridade nos atuais moldes da produção científica, fui surpreendida pela seguinte afirmação: “mas todos somos essencialmente interdisciplinares em nossas práticas cotidianas”. Essa afirmação mexeu com as minhas convicções, quando parei para pensar que só no simples ato de cozinhar, trago conhecimentos e perspectivas da biologia (tipos de alimentos), da física (tempo de cozimento) e até mesmo de história (comida típica de onde mesmo?). Minhas inquietações estavam calcadas principalmente nas dificuldades de diálogo entre as disciplinas, por conta dos métodos, linguagens peculiares, no campo super especializado de cada disciplina. Apesar das minhas antigas resistências em relação à interdisciplinaridade, vejo que os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1999, e as Diretrizes de 2006 avançam ao propor novas formas de trabalhar o currículo, evitando a excessiva fragmentação presente no currículo até então.Porém, embora convencida da necessidade e importância de um trabalho interdisciplinar, entendo que ainda há uma resistência de diálogo entre professores de diferentes áreas. Esta se dá no campo do conhecimento acadêmico especializado da formação inicial (dificuldade de diálogo, de abertura para o desconhecido, preservação da identidade profissional), como também nas dificuldades de se pensar num currículo integrado dentro da atual jornada de trabalho do professor, que chega a trabalhar três turnos, em diferentes escolas. No meu entender, essa carga excessiva (fora o trabalho extra-sala, realizado em casa) dificulta a operacionalização de um projeto interdisciplinar na escola.Desta forma, é extremamente importante que as políticas públicas educacionais olhem para as condições materiais dos professores, para que propostas inovadoras como essa possam fazer com que o professor busque uma nova identidade – não mais aquela calcada na sua formação inicial – mas uma identidade múltipla, característica da sociedade contemporânea.

Datas comemorativas

Odeio datas comemorativas. Sim, sou mal-humorada. Mas tenho uma boa justificativa. Gasta-se muito dinheiro e neurônios com essas invenções comerciais. Vejam, não sou pão dura (apesar desta ser minha fama). Mas tem coisa mais chata que ter que comprar presente? Dia das Mães é um sacrifício. Não que não goste da minha mãe, longe disso, mas ter que pensar no que vou comprar, e ainda pensar no que dei ano passado (afinal, repetir o presente não é legal) é muito chato. E Dia dos Namorados? Restaurantes lotados. Comida de péssima qualidade (uma vez tive um treco quando um restaurante serviu peixe com nhoque, uma heresia digestiva), populaçao atordoada pensando no que vai comprar, carregando flores pela rua, ursinhos de pelúcia e balões em forma de coração. Mesmo se não estiver a fim de olhar para a cara do dito cujo (ou da dita cuja) é Dia dos Namorados, é dia de amar e ter que ser feliz! Não gosto disso. No último sábado, fui ao show do cantor Nando Reis. Ele disse algo interessante: festa junina é uma data comemorativa onde não precisamos dar presentes. Por isso ele gosta de festas de São João. E eu também.