quinta-feira, 31 de maio de 2012

Atividade pág. 34 - O homem faz a sociedade ou a sociedade faz o homem?- 1.1D, 1.2D e 1.3D - Cotil

Pessoal, Desenvolver um breve texto, discutindo as questões propostas pelo autor: somos nós que fazemos a hora? Ou a hora já vem marcada, pela sociedade em que vivemos? O que, afinal, o "sistema" nos obriga a fazer em nossa vida? Qual a nossa margem de manobra? Qual o tamanho da nossa liberdade?". Boa reflexão! Abs Carol OBS: Não esqueçam de colocar Nome e número da sala!!!!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Atividade pág. 21 - Turmas 1.3D e 1.1D - Cotil

Pessoal, Leiam o texto "Os sonhos dos adolescentes" (pág. 21) e respondam as questões da pág. 22. Esta atividade pode ser feita em duplas. Não esqueçam de postar com o nome e ano (Lucas, 1.3D, por exemplo). Abraços

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Texto 3os anos - Cotil

Ralé eternizada

De acordo com o sociólogo Jessé Souza, a forma como a sociedade brasileira percebe, hoje em dia, sua enorme desigualdade social é contaminada por uma visão "economicista” da realidade social. A crença fundamental do economicismo é a percepção da sociedade como sendo composta por um conjunto pessoas vistas como agentes racionais, ou seja, que calculam suas chances na vida com exatamente as mesmas disposições de comportamento e as mesmas capacidades de disciplina, autocontrole e auto-responsabilidade, sem excessão. Nessa visão distorcida do mundo, o marginalizado social é percebido como se fosse alguém com as mesmas capacidades e comportamentos do indivíduo da classe média. Por conta disso, o miserável e sua miséria são sempre percebidos, erroneamente, na nossa sociedade, como um mero acaso do destino, sendo sua situação miserável facilmente reversível, bastando para isso uma ajuda passageira do Estado para que se possa "andar com as próprias pernas".
De acordo com o sociólogo, é esse mesmo tipo de raciocínio que não considera, de fato, os indivíduos e seu contexto social; que transforma a escola (pensada abstratamente e fora de seu contexto) em remédio para todos os males de nossa desigualdade. Na realidade, a escola, pensada isoladamente e em abstrato, vai apenas legitimar, com o "carimbo do Estado" e omissão de toda a sociedade, todo o processo social de produção de indivíduos "nascidos para o sucesso", de um lado, e dos indivíduos "nascidos para o fracasso", de outro. Afinal, o processo de competição social não começa na escola, como pensa o senso comum, mas já está, em grande parte, pré-decidido na socialização familiar antes mesmo da vida escolar, produzido por "culturas de classe" distintas.
Como toda visão superficial e conservadora do mundo, essa visão baseada no economicismo serve como explicação que encobre os problemas mais profundos e fundamentais da sociedade brasileira: a questão da "divisão de classes". O economicismo percebe a realidade das classes sociais apenas "economicamente", ou seja, como produto da diferença de "renda" dos indivíduos. Isso esconde e torna invisíveis todos os fatores e pré-condições sociais, emocionais, morais e culturais que produzem a diferença de renda. Esconder os fatores não econômicos da desigualdade é tornar invisível parte importante deste processo.
Para se compreender como as classes sociais são produzidas de forma distinta é necessário perceber como os chamados "capitais impessoais" - o capital cultural e o capital econômico - são também diferencialmente assimilados.
Não podemos esquecer que o processo de modernização brasileiro forma uma classe inteira de indivíduos sem capital cultural nem econômico, desprovida das pré-condições sociais, morais e culturais que permitem essa apropriação. É essa classe social que Jessé Souza chama de "ralé" estrutural (não para "ofender" essas pessoas já tão sofridas e humilhadas, mas para chamar a atenção, para nosso maior conflito social: o abandono social e político, "consentido por toda a sociedade", de toda uma classe de indivíduos "precarizados"). Essa classe social só é percebida no debate público como um conjunto de "indivíduos" carentes ou perigosos.
É necessário sempre considerar que a produção de indivíduos "racionais" e "calculadores" - os tais que poderiam, com a ajuda passageira do Estado, depois "caminhar com as próprias pernas" - não é um dado "natural", "caído do céu". Ele é produto de capacidades e habilidades transmitidas de pais para filhos por identificação afetiva, por meio de exemplos cotidianos. Ou seja, disciplina, capacidade de concentração, percepção da vida como um afazer "racional", são capacidades e habilidades da classe média e alta que possibilitam, primeiro, o sucesso escolar de seus filhos e, depois, o sucesso no mercado de trabalho. O que vai ser chamado de "mérito individual" mais tarde e legitimar todo tipo de privilégio não é um milagre que "cai do céu", mas é produzido por heranças afetivas de "culturas de classe" distintas, passadas de pais para filhos. Não considerar esse fato importantíssimo é a causa de todas as ilusões do debate público brasileiro sobre a desigualdade e suas causas e as formas de combatê-la.
Na realidade, essa classe, que soma 1/3 da população brasileira, é reduzida a "corpo" e é explorada pelas classes média e alta como "corpo" vendido a baixo preço, seja no trabalho das empregadas domésticas, seja como gasto de energia muscular no trabalho masculino desqualificado, seja ainda na realização da metáfora do "corpo" à venda, como na prostituição. Os privilégios da classe média e alta vindos da exploração do trabalho desvalorizado dessa classe são incalculáveis.
Além de se reproduzir como mero "corpo" incapaz de prosperar num mercado de trabalho competitivo, essa é a classe também da escola (pública) brasileira de segunda classe e do serviço de saúde (público) de segunda classe. Essa é também a classe que é transformada em delinqüente e perigosa e julgada por outra classe. Essa é a nossa "luta de classes" cotidiana, invisível e silenciosa que só ganha as manchetes em forma de "novela" da violência transformada em espetáculo e alimentada pelos interesses comerciais da imprensa.
Há um grande drama histórico da sociedade brasileira: a continuação da reprodução de uma sociedade que "naturaliza" a desigualdade e aceita produzir "gente" de um lado e "subgente" de outro.

*Jessé Souza, doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) e professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora, é autor de A Construção da Subcidadania (UFMG)